Aos 40 anos, Jorge Henrique brilha na 3ª divisão de MG, lamenta briga com Tite e quer ser técnico

Atacante briga pelo acesso à segunda divisão estadual com o North, relembra passagem pelo Corinthians e chegada ao clube no dia da apresentação de Ronaldo Fenômeno; veja o vídeo

Aos 40 anos, Jorge Henrique diz ainda se sentir um garoto atuando na terceira divisão do Campeonato Mineiro. A competição, restrita aos jogadores até 23 anos, permite a cada time a inscrição de até três jogadores acima do limite de idade. O atacante é um dos veteranos do North Esporte Clube, clube que está a um jogo do acesso à segunda divisão estadual.

Com passagens por Botafogo, Corinthians e Internacional, entre outros, o atacante fez um balanço da carreira ao ge, relembrando os títulos conquistados pelo Timão, o contato com Ronaldo Fenômeno, a briga com Tite e os planos de ser treinador futuramente. Antes disso, quer colocar o North Esporte Clube na elite do futebol de Minas Gerais (veja no vídeo abaixo a entrevista completa com o atacante).

– Estou muito feliz, primeira conversa que tive quando recebi o convite foi muito boa, direta e me passaram o tamanho do projeto. Senti firmeza e fiquei feliz pelo convite, nunca tinha disputado um campeonato mineiro e estou feliz pelo nosso desempenho. Estamos a dois jogos do acesso, na semifinal do campeonato, e próximo do primeiro objetivo que é o acesso – disse Jorge Henrique.

Na 3ª divisão de MG, Jorge Henrique relembra briga com Tite e planos de ser treinador

Fundado em junho deste ano, o North Esporte Clube disputa o Campeonato Mineiro pela primeira vez. Na terceira divisão, a meta do clube é disputar a elite estadual nos próximos anos. Para isso, apostou na contratação do experiente Jorge Henrique para buscar o acesso logo no ano de estreia.

E até o momento tem dado certo. O North está a uma vitória de conquistar uma vaga na final e o acesso. Em dez jogos, foram seis vitórias, três empates e apenas uma derrota. Jorge Henrique marcou quatro gols em oito jogos e é o principal nome do time de Montes Claros (clique aqui e veja a campanha do time mineiro).

– Estou feliz pelos títulos que conquistei, os clubes que passei, mas vou ficar mais feliz se conseguir o acesso e esse título com o North. Ainda não parei, quero fazer história aqui também.

– Estou muito feliz, vivendo um momento muito bom da minha carreira, nunca fui artilheiro e hoje sou. Apesar de um campeonato com faixa etária de 23 anos, eu ser um dos três com idade acima, tenho quatro gols e o artilheiro do campeonato tem sete e está fora. Se for para final tenho jogos pela frente, imagina com 40 anos, quase acabando minha carreira, ser artilheiro que nunca consegui ser na carreira? Espero conseguir o acesso e o título.

Jorge Henrique quer conquistar o acesso e garantir mais um ano de contrato. Segundo ele, o plano é atuar em 2023 e depois encerrar a carreira. O atacante tem feito cursos na CBF para se tornar técnico futuramente.

– Meu pensamento é jogar até o ano que vem, vou tirar minha licença de técnico e pretendo continuar no ramo do futebol. É o que mais gosto de fazer, é estar no meio dos meninos e batendo uma bola. Ano que vem ainda estarei no meio, mas do lado de fora – disse.

Se conquistar a terceira divisão de Minas Gerais, Jorge Henrique chegará ao 11º título estadual da carreira. Desde 2003, quando se profissionalizou no Náutico, ele levantou taças no Pernambucano (2004), Paranaense (2005), Cearense (2006), Paulista (2009 e 2013), Gaúcho (2014 e 2015), Carioca (2016), Catarinense (2018) e Brasiliense (2021).

– Quando saio da minha casa para ir para algum clube, sempre traço metas e objetivos, sempre busco títulos. Tive a experiência de conquistar títulos por vários clubes, o Paulista que é o mais disputado, tem grandes equipes. Disputar um Paulista foi muito gratificante, por ter conquistado duas vezes.

Passagem pelo Corinthians

Jorge Henrique jogou por quatro anos e meio no Corinthians e conquistou seis títulos, entre eles a Libertadores da América e o Mundial de Clubes. Passou por altos e baixos no Timão, desde a pressão pela eliminação na pré-Libertadores para o Tolima, a parceria com Ronaldo Fenômeno e o auge com as conquistas dos títulos mais importantes da história recente do clube.

Por tudo isso, Jorge Henrique diz que o Corinthians foi o time que ainda o faz ser reconhecido na rua e ter o seu nome ligado ao clube.

– O corintiano me abraçou pela dedicação dentro de campo e força de vontade, não tinha bola perdida. Até hoje recebo o reconhecimento dos quatro anos e meio e seis títulos, apesar de não estar lá, ainda sofro com eles.

A chegada de Jorge Henrique ao Corinthians marcou uma data histórica no clube. No mesmo dia em que assinava o seu contrato, Ronaldo Fenômeno era apresentado no Parque São Jorge, em 2009.

– Foi engraçado, estava na sala assinando o contrato e daqui a pouco entrou simplesmente o Ronaldo, fiquei só olhando. Ele me fala: “e aí, garoto, é você que vai dar os passes?”. Disse que ele não precisaria correr, que estava chegando para isso. É um cara amigo de todo mundo, simples e que só tinha a oportunidade de ver pela televisão e torcer, do nada vejo ele na minha frente, fiquei paralisado e ele começou a brincar comigo. O Brasil adora ele, foi uma sensação que guardo para o resto da minha vida.

Ao todo, Jorge Henrique fez 216 partidas pelo Corinthians, sendo 169 como titular, com 114 vitórias, 67 empates e apenas 35 derrotas. Foram seis títulos: Paulistão (2009 e 2013); Copa do Brasil (2009); Brasileirão (2011); Libertadores (2012) e Mundial de Clubes (2012).

Briga com Tite e saída do Corinthians

A saída do Corinthians não aconteceu da forma esperada por Jorge Henrique. Um dos principais jogadores do elenco, o atacante acabou tendo um desentendimento com o técnico Tite: ele mentiu para o treinador sobre o motivo do atraso em um treino, sendo a gota d’água para ser negociado com o Internacional.

– Com certeza, a gente aprende na vida. Todo jogador está sujeito a erros, acabei errando, mas não tenho mágoa nenhuma do Tite. O Tite é um grande treinador, um cara que me ensinou bastante e não é por acaso que está na Seleção, todos gostam dele dentro e fora de campo. Acho que o trabalho dele é sensacional, tudo que aprendi como certo e errado tento passar para os meninos. Muitas vezes você pode escolher o caminho certo e não o errado, tento passar para eles.

Fama de marrento

Jorge Henrique sempre teve fama de marrento, pelo menos dentro de campo. O próprio atacante admite que essa é uma forma de se defender. Afinal, ele tem apenas 1,69m e encontra pela frente zagueiros mais altos e fortes.

– Eu tirava como elogio, os laterais me falavam muito que era chato, marrento. Mas eu respondia que precisava ficar em cima dele, se te largar aqui perco meu lugar no time, minha função é te marcar. Era briguento só dentro de campo, fora eu sou pequeno e se arrumar confusão vou apanhar, lá dentro ninguém pode me bater. Aqui dentro arrumo confusão, mas lá fora somos amigos. Se me bater aqui dentro, é expulso – brinca o atacante.

Jogar na 3ª divisão de Minas Gerais

Após passar em sequência por Botafogo, Corinthians, Internacional e Vasco, Jorge Henrique vem de times menos tradicionais e em divisões sem tanta badalação nos últimos anos. Desde 2016, passou por Figueirense, Náutico, Brasiliense e Camboriú-SC antes de acertar com o North.

– São desafios na carreira, independentemente da divisão encaro como desafio. Não é um campeonato fácil, o Mineiro é difícil e tem várias coisas que atrapalham um pouco, como viagens longas e cansativas, campos que não são bons igual o Maracanã, Beira-Rio, Pacaembu… você pega campos prejudicados. Por outro lado tem o carinho dos companheiros, dos adversários. Falo que dentro das quatro linhas temos que defender nosso lado, o carinho do adversário e do torcedor quando vamos jogar fora é muito gratificante.

Aos 40 anos, Jorge Henrique admite que a idade mudou um pouco as suas características de jogo, deixando de ser um velocista para usar os famosos atalhos do campo que apenas com a idade um jogador de futebol pode aprender.

– Mudou um pouco a velocidade, com o tempo e a idade você acaba perdendo um pouco, mas com a idade você ganha em outras coisas. Com o tempo e a idade você ganha na experiência, no atalho e hoje corro mais pelos atalhos, me cuido mais e às vezes um pique que dava a mais dou uma segurada, a idade atrapalha um pouquinho, mas estou bem fisicamente e aguentando os 90 minutos.

– O técnico adversário brinca que o jogador dele está saindo com cãibra e eu com 40 anos jogo os 90 minutos. Hoje me cuido mais, tenho uma alimentação melhor e a gente vai aprendendo com a vida.

Jorge Henrique pode conquistar o acesso pelo North neste sábado, quando o time recebe o Valeriodoce, no estádio José Maria Melo, em Montes Claros, na segunda e decisiva partida da semifinal. No primeiro jogo, empate por 0 a 0.

Por: Emilio Botta — São Paulo / Disponível em: ge.